quarta-feira, dezembro 31, 2008

Meu 2008

Feliz Ano Novo (de verdade agora)

Pessoal, perdoem a historinha macabra e sinistra do post anterior. Foi só uma idéia ruim que me apareceu numa noite mal sonhada. E, bem, acho que histórias ruins devem ser contadas para darem lugar para histórias boas surgirem.

Obviamente não acredito que o mundo acabe hoje, nem que deuses antigos e cruéis retornem. Mas se isso acontecer, juro que é coincidência.

Não sei como 2008 foi para vocês, mas espero que 2009 seja pelo menos trezentas vezes melhor. Um beijo e um abraço e espero aparecer por aqui mais vezes no ano que vem.

Feliz ano novo!

Feliz Ano Novo

30 minutos para meia noite.

É dia 31 de dezembro de 2008. O homem está sozinho no hotel. Ele liga a TV que mostra pessoas celebrando a chegada do novo ano. Famílias falando dos planos para o Réveillon, prefeitos dizendo sobre a programação da festa em vários pontos da cidade. Ele está sozinho num quarto de hotel. Sozinho e bêbado. Ele olha para a TV e fala “Eles não entendem. Eles simplesmente não conseguem entender a tragédia que vai acontecer”.

15 minutos para meia noite.

O homem está tomando banho. Ele pensa nos sonhos que tem se repetido há meses. Ele sonha com deuses antigos. Deuses de antes de o mundo existir. Deuses que foram banidos por serem cruéis e monstruosos. Ele não queria acreditar no inicio, mas sabe que é verdade, viu em seus sonhos. Na virada de 2008 para 2009 os Esquecidos voltaram. Ele viu o que eles vão fazer. Viu seres-humanos virarem gado, viu povos serem chacinados, viu um país ser devorado.

5 minutos para meia noite.

“As pessoas temem o fim do mundo há tempos”, pensa. Nostradamus previu que seria no ano 2000, os Maias creem que isso acontecerá m 2012. Ele sabe que não. O mundo acaba em 2009. Não acabará com uma explosão, ou um dilúvio. O mundo vai acabar aos poucos, com dor e sofrimento. Ele chora ao lembrar-se das crianças em seus sonhos. “A hora está chegando”. Pega suas coisas, se arruma, sai de seu quarto e pega o elevador.

1 minuto para meia noite.

Talvez exista uma forma de impedir o apocalipse. Ele acredita nisso, foi o que viu em seus sonhos. Sacrifício humano. Se ele derramar sangue o suficiente, talvez os deuses antigos resolvam esperar um pouco. Talvez não invadam agora. É por isso que ele tem esses sonhos, pra saber o que deve ser feito. Pra ser um herói. É no que pensa enquanto se aproxima de uma multidão que aguarda a chegada do Ano Novo.

15 segundos para a meia noite

A contagem regressiva está para começar. Um homem no palco avisa a todos que em menos de um minuto será 2009. As pessoas comemoram.

Dez

A contagem regressiva começa. Ele olha pra mão e vê que apesar do banho suas unhas ainda estão sujas com o sangue da camareira que ele sacrificou há meia hora.

Nove

Ele está há um mês nesse hotel esperando esse momento. Um mês sozinho. Só ele e seus sonhos. Ele guardou o broche com o nome da camareira. Rose era o nome.

Oito

Ele tenta criar coragem. Sete segundos. “Tudo depende de mim”, pensa. Ele confere discretamente o equipamento que está sob sua roupa.

Sete

Ele olha em volta e tenta calcular quantas pessoas estão ao seu redor. “Será o suficiente?”

Seis

“Tem que ser o suficiente”. Ele tenta fazer o calculo de quantas pessoas ele conseguirá atingir. O bastante. Isso deve agradá-los. Isso tem que agradá-los.

Cinco

Pensa em sua família. Em como elas reagiram quando ele contou. Quando disse tudo sobre os sonhos, sobre os deuses antigos, sobre o sacrifício necessário. De sua mulher o chamando de louco.

Quatro

Ele se lembra dos olhares de suas filhas enquanto ele fazia o que precisava ser feito. Ele se lembra do grito da esposa amarrada na cadeira enquanto ele se aproximava com a faca ensanguentada. Era a vez dela.

Três

Ele sente o detonador em sua mão e os quilos de dinamite ao redor do seu corpo, sob o casaco. “Será que é o suficiente”, ele se pergunta mais uma vez. Ele olha pra multidão ao seu redor fazendo a contagem regressiva.

Dois.

O dedo aperta firmemente o detonador. “É agora”.

Um.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Ovo

O ovo é ovo ou ovo.
Assim como a asa é asa ou asa.
Não a ema, ema ou ame.
Ame.
Ema, ame!

terça-feira, dezembro 02, 2008

Memória digital

Você se envergonha do seu passado? Eu me envergonho. Acho que todo mundo tem um pouco de vergonha das coisas que falou, das coisas que escreveu, das coisas que fez uns anos atrás. Seja sincero, quem não morre de vergonha quando se lembra daquela declaração de amor ridícula para a pessoa que hoje você sabe que não é a certa? Ou aquela vez que você fez um penteado que parece um ninho de pomba bêbada? Todo mundo morre de vergonha de algumas coisas do passado.

O problema é que agora o passado não some mais. Antigamente, esses fatos vergonhosos eram apenas leves lembranças que surgiam nas madrugadas insones. Agora não. Graças a internet, tudo o que te envergonha pode ser encontrado por aí. Sabe aquele depoimento apaixonado que você mandou pra garota que você achava ser a mulher da sua vida e agora você nem quer ver mais a cara? Tá lá. Você pode ver todo dia, botar a mão no rosto e se lamentar pensando “como eu era imbecil”.

Eu imagino como as futuras gerações vão lidar com isso. Elas estão crescendo num mundo em que tudo é documentado. Aquela conversa inconseqüente que você teve no MSN? Alguém salvou o log. Aquele videozinho besta que você fez com os amigos? Está no YouTube. Apesar de estarmos vivendo numa época em que as ferramentas são transitórias, ( ontem era o ICQ, agora MSN; a moda era o bog, agora é twitter) os dados permanecem. Logs ficam por aí, posts de blogs abandonados, rastros são deixados. Os erros, fracassos, vergonhas que antes eram apenas uma memória ruim, agora estão sempre presentes para te assombrar.